O PERIGO DO ESTEREÓTIPO
O estereótipo é diversas vezes colocado como um substantivo maléfico, que traz um padrão a ser seguido. Dentre os estereótipos do veado há aquele no qual a pessoa deve ser promíscua, carente de atenção, louca para dar ou dedar outra pessoa (o veado passivo é menos veado que o que come, porque, afinal, que desorgulho para uma mãe saber que o filho dá o cu!). Também não importa se a pessoa tem gosto - nessa hora é esquecido até os padrões de beleza -, o fato da pessoa ser homoafetiva significa que a pessoa tem a obrigação de gostar de qualquer pessoa do mesmo sexo que o dela.
O caso pode ser ainda mais aterrador. Um dos estereótipos construídos sobre a mulher é o da cozinha. Como pessoas parte da sociedade (porque até o título de cidadã teve que ser conquistado), a mulher tem a função vital de cumprir o papel de doméstica. Doméstica sem receber um custão por isso. Boa mãe, boa esposa, sem deixar de ser boa de cama. Sensual, delicada, independente, mandona, não importa a característica: a mulher tem que cumprir o papel de mulher. Logo, o homem tem o compromisso de cumprir seu caráter instintivo: machista, safado, ou até protetor, valente.
Cria-se estereótipos para tudo. Agora pessoa deprimida ou ansiosa é louca, gente magra é anoréxica, gente gorda é preguiçosa e velho, com certeza é safado. Os adjetivos são carregados de ideias pré-concebidas. Tudo bem, esse é o motivo de suas existências. Não é justo culpar as palavras e nem levantar bandeira contra o uso de adjetivos estereotipados. Mas é justo, sim, tirar o mofo dos neurônios e pôr o cérebro pro funcionar novamente.
É rápido, é simples. O estereótipo não traz benefício nenhum a ninguém. Aos poucos - em passos bem lentos, continuamente - fomos nos livrando de algumas ideias. Mesmo que um bem atrás de um mal, é possível notar a mudança no imaginário de algumas pessoas: agora empresários ricos nem sempre são felizes, nem sempre são tristes. Prostituta não precisa gostar da profissão e nem sempre a odeia. Por que, então, numa ideia geral, ainda acreditam que sapatão tem sempre que usar bermuda? Por que travestis sempre tem que ser escandalosas? Por que é estranho namorar um(a) trans?
E o direito básico de qualquer um é arrancado: o bem de ser livre em harmonia em coletivo. Foi tirado o direito do próprio corpo, atitudes, prazeres, o direito de ser "si", direito de falar. Tudo por causa do medo de ser estereotipado. Mas afinal de contas, qual a dificuldade de permitir tornar-se real a curiosidade de uma garota em ficar com outra garota sem ser taxada de lésbica? Qual o problema de um jovem frequentar a igreja e não ser taxado de crente autoritário? E tudo isso pela dificuldade de algumas pessoas perceberem que as opiniões repressoras delas não são nem um pouco bem vindas. Pensar antes de falar (ou digitar) tornou-se uma virtude? Deus!
Não há problemas algum em seguir o estereótipo, se é isso que se deseja. A mulher pode ficar na cozinha, se é o que ela gosta, mas o homem também pode. Antes de uma atitude extremista como eliminar o sistema de gênero binário, eliminar a mania de desmembramento por sexualidade (isso já é outra coisa irritante a ser pensado que sobra muito pra falar), precisamos logo entender que estamos nos aprisionando numa sociedade impossível de viver. Vivemos em um grupo de pessoas de pensamento pronto, respostas rápidas. Entretanto, por que ninguém para pra pensar que benefício isso está nos trazendo? tirando o privilégio babaca de alguns, eu não vejo nenhum.
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